Tarifa cara, trecho curto e
impacto direto na escolha do destino
O anúncio do
governo do Rio Grande do Sul, em 2024, sobre a implantação de 24 novos pontos
de pedágio no estado reacendeu debates intensos entre moradores, lideranças
regionais e representantes do setor turístico. Em um momento em que o turismo
tenta se recuperar após os danos da tragédia climática de maio, o novo modelo
de concessão previsto pelo Estado, com contratos de 30 anos e investimento
estimado de R$ 6,7 bilhões, gera incertezas sobre o impacto nas viagens
rodoviárias — principal meio de deslocamento dos turistas gaúchos.
O plano prevê
a instalação de um sistema Free Flow, no qual a cobrança é feita por meio de
pórticos com leitura de placas e tags, sem a presença de praças físicas. Ainda
assim, a forma de tarifação — por trecho percorrido, e com possibilidade de
cobranças múltiplas em trajetos curtos — tem sido apontada como um fator de
desestímulo ao turismo regional.
Serra
Gaúcha na mira
Região
emblemática para o turismo estadual, a Serra Gaúcha será uma das mais
impactadas pela nova configuração. Ao todo, seis novos pontos de pedágio estão
previstos para cidades como Bento Gonçalves, Veranópolis e Garibaldi. O setor
turístico local teme que os custos adicionais acabem afastando visitantes — especialmente
em roteiros que envolvem deslocamentos frequentes entre cidades vizinhas.
A proposta de
concessão, defendida pelo governo Eduardo Leite como uma forma de garantir
investimentos em infraestrutura e segurança nas estradas, foi criticada por
diferentes setores. Para o ex-ministro Miguel Rossetto, em artigo publicado no
Sul21, o modelo apresenta uma combinação desfavorável: “tarifa mais cara e
trechos mais curtos”, o que penaliza sobretudo quem depende das rodovias para
atividades cotidianas e econômicas — como é o caso do turismo.
A previsão é
de que os novos pórticos sejam distribuídos em sete rodovias estaduais e uma
federal, totalizando 415 km de extensão. A concessão também prevê obras de
duplicação, terceiras faixas e melhorias viárias, mas não há garantias sobre a
implementação dessas obras antes da cobrança dos pedágios.
Setor
turístico pede revisão
Entidades
ligadas ao turismo vêm pressionando o governo estadual por mais diálogo. A Federação
de Entidades Empresariais do RS (Federasul) e associações de turismo da Serra e
do Litoral já se manifestaram publicamente, pedindo maior transparência nos
estudos de viabilidade e a inclusão de cláusulas que protejam o setor
turístico, especialmente no que diz respeito a cobranças cumulativas em
pequenos trechos.
A inquietação
é ainda maior diante da memória recente dos prejuízos causados pelas enchentes,
que afetaram fortemente a malha viária e inviabilizaram o funcionamento de
hotéis, restaurantes e vinícolas por semanas.
Turismo
rodoviário em risco
O turismo
gaúcho é fortemente sustentado por deslocamentos internos. Cidades do interior
como Gramado, Canela, São Miguel das Missões e São José dos Ausentes dependem
quase exclusivamente do turismo rodoviário de curta e média distância,
especialmente nos fins de semana e feriados. Especialistas alertam que qualquer
aumento no custo da viagem pode gerar efeitos colaterais significativos, como
queda na ocupação hoteleira, redução de consumo e até cancelamento de eventos
locais.
O que vem
pela frente
Com o edital do
novo bloco de concessões prestes a ser lançado, o governo estadual tenta
reduzir resistências e afirma que ajustes estão sendo feitos com base nas
manifestações das comunidades impactadas. No entanto, o sentimento de apreensão
ainda domina o setor turístico e moradores de regiões que podem passar a
conviver com múltiplos pedágios em deslocamentos diários.
Mais do que uma questão de
infraestrutura, o debate sobre os novos pedágios coloca em xeque o modelo de
desenvolvimento desejado para o Rio Grande do Sul: um estado acessível,
integrado e com turismo fortalecido — ou um território fragmentado, com
barreiras financeiras que dificultam o ir e vir de visitantes e cidadãos.
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