Dedicado à Waldy Würdig Ribeiro
Do funeral que agora passa diante da praça
Pouco se sabe a respeito do morto.
Uns falam que era poeta,
Outros afirmam que era louco.
O vizinho da quadra de cima,
O dono da farmácia,
O filho do padeiro
E o rapaz do porto,
Foram os únicos que apareceram
Para levar o caixão do morto.
Pequenino. Franzino.
Assim era seu corpo.
Não devia pesar, mais do que uns 40 e pouco.
Atrás do cortejo duas, três beatas,
A lavadeira e a senhora da feira.
Uns falam que era poeta,
Outros afirmam que era louco.
E, assim vai passando...
Encoberto pela garoa fina
O que sobrou do homem de dedos tortos,
Que escrevia versos,
Desde o seu tempo de moço.
Ao observar a cena,
Digna de novela de época,
me ponho a pensar:
Quantas garotas ele imortalizou com sua rima?
Quantas madrugadas vagou pelas ruas e esquinas,
A procuração de inspiração?
E, quantas canções arrancou do velho violão,
Com seus dedos que Deus só lhe deu os tocos?
Ele era um artista...
E foi por escrever versos
E falar em poesia que recebeu a fama de louco.
Não lembro de ter visto seu nome
Em nenhuma antologia,
Talvez, porque optasse pelo anonimato.
"Devagar com o cortejo"!
- Gritei para aquela minoria.
Eu tenho que chamar a banda,
O padre, o prefeito,
As damas da noite
E os aposentados das praças.
Não deixem que enterrem sem louros,
Alguém que com suas mãos
Escreveu tantos tesouros.
Poema autoral escrito por volta do ano 2000.
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