A Associação dos familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia de
Santa Maria, a AVTSM, emitiu nota no domingo, 29, afirmando não concordar com
processo contra a Netflix, em virtude da série Todo dia a mesma noite, lançada
na última semana pela plataforma, retratando o incêndio da Boates Kiss.
A manifestação
se opõe à intenção de um grupo de pais que diz ter sido surpreendido
negativamente pela produção e por essa razão entrará com ação judicial contra o
serviço online de streaming norte-americano.
Confira o que
diz o texto em sua íntegra:
"Perante a divulgação em inúmeros veículos da imprensa acerca
de um processo contra a empresa Netflix em função da série Todo Dia a Mesma
Noite, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de
Santa Maria esclarece através desta nota que estávamos, sim, cientes que a
produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro Todo Dia a
Mesma Noite: a História Não Contada da Boate Kiss, de Daniela Arbex, e sente-se
representada por ela bem como pelo livro da autora.
A produção não retrata de
forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro
famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e
sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em
concordância. Além disso, reiteramos que não estamos movendo nenhum processo
contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das
produções na luta por justiça e a luta por memória.
Acreditamos, acima de tudo,
que tragédias como a que vivenciamos precisam ser contadas através de todas as
formas. Recontar essa história significa denunciar as inúmeras negligências e
tentativas de silenciamento que encontramos pelo caminho, além de auxiliar na
prevenção para que esse tipo de tragédia não aconteça com mais nenhuma família,
algo que temos como propósito desde o primeiro dia de nossa fundação.
Mostrar o que aconteceu
na Kiss faz com que a morte de nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, pais e
mães, amigos e amigas não tenha sido em vão. Mostrar a morosidade, a burocracia
e como é o sistema judiciário brasileiro serve como denúncia e como protesto. É
preciso falar, debater, produzir materiais sobre o que aconteceu naquela
trágica noite de 27 de janeiro de 2013, pois só assim conseguiremos que as
pessoas entendam o que a ganância, a negligência e a omissão são capazes de
fazer. Em Santa Maria, esses fatores mataram 242 jovens e deixaram 636 com
marcas físicas e psicológicas.
Entendemos que rever a
tragédia, principalmente nos dois primeiros episódios, pode mobilizar os
sentimentos, as lembranças e dimensionar a impunidade em sua ferocidade e, com
isso, a associação se disponibiliza a acolher e a promover ações para comporem
o movimento por Justiça.
Por fim, esclarecemos que desde o dia 27 de
janeiro de 2013, nós sofremos com a perda irremediável de nossos filhos, irmãos
e amigos, sabemos o quanto isso nos dói. Não há nenhum valor sendo pago a nós
com a produção, e o que ganhamos é a crença no fortalecimento na luta por
justiça e pela memória. Para que não se repita.
Santa Maria, 29 de
janeiro de 2023."
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