Especialista explica
como tutores podem evitar e tratar esses sintomas
Os princípios morais e a forma
como o homem se relaciona com os seres não humanos pautaram, em 2013, a obra Ética
e Bem-estar Animal, escrita pelo professor doutor em Ciências Veterinárias e
graduado em Direito, Renato Silvano Pulz. A publicação, considerada por sua
relevância como um manual prático dos especialistas da área de direito animal,
aborda, entre outros tópicos, uma temática cada vez mais atual: a saúde
emocional dos pets.
Professor há quase duas décadas,
do curso de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra),
onde ministra as disciplinas de Anestesiologia Veterinária, Introdução à Medicina
Veterinária e Ética e Bem-estar Animal, Pulz é referência em assuntos
relacionados à permanência de cães e gatos em ambientes confinados ou
artificiais e os males físicos e psicológicos causados por esta rotina.
O especialista reconhece os animais
como seres conscientes, capazes de ter sensações, sentimentos e que devem ter
seus direitos respeitados, questão base no desenvolvimento do conceito,
originado junto à ciência de bem-estar, que trata das cinco liberdades: livres
de dor e de doenças, de fome e de sede, de medo e estresse, de desconforto e de
expressar o comportamento natural, todas de alguma forma restritas nos animais
pelo seu tutor.
“Os termos cativeiro e isolamento
também podem ser fatores estressantes ao pet doméstico, que, vivendo em um
local com limitação de espaço ou sozinho por longos períodos, se vê como numa
gaiola, impedido do convívio em sociedade e interação com os membros da sua
espécie, não conseguindo, assim, expressar o seu comportamento natural”,
conceitua Renato.
De acordo com o docente, o
isolamento e o tédio afetam a vida emocional de cães e gatos, podendo causar
medo, depressão, ansiedade, irritabilidade e comportamento antissocial. Os
distúrbios de comportamento também podem ocorrer
com bovinos, aves, suínos e equinos, que, na sua grande maioria, vivem
confinados em fazendas.
Sintomas aparentes
“Quando afetados pelo tédio, os
animais costumam desenvolver alterações de comportamentos, como roer móveis,
distúrbios de apetite, agressividade, apatia, correr atrás da própria cauda,
latir insistentemente, automutilação, etc. Um exemplo clássico é o ato de lamber a pele compulsivamente até desenvolver o que chamamos na medicina
veterinária de ‘ferida por lambedura’. Também a ‘Síndrome de ansiedade por
separação do tutor’. Todos esses sinais podem ser desenvolvidos por causas
emocionais, que podem evoluir para doenças físicas”, alerta o profissional.
Muitos desses vícios e estereotipias são comportamentos que não
possuem função real, considerados pela medicina como alguns dos males causados
pelo tédio e isolamento social.
“A ocorrência desse tipo de
problema é cada vez mais comum na rotina das clínicas veterinárias, pois os
pets convivem com nossos hábitos. Temos que lembrar que os animais tem vida
emocional rica e complexa e que apesar de viverem como nossos filhos continuam
tendo suas necessidades naturais. Em alguns casos de sofrimento emocional as
consequências podem ser mais graves, como alergias, gastrites e úlceras
gástricas, emagrecimento, obesidade, depressão e até o óbito”, acrescenta o
veterinário.
Sobre os animais silvestres e
exóticos criados como pets, o docente se mostra “pessoalmente contra, pois fere
a natureza desses animais que são de vida livre. Mas como a lei autoriza que se
criem determinadas espécies, o importante é respeitar a naturalidade da espécie
em relação às suas necessidades, como ambiente e nutrição, por exemplo”.
Alternativas recomendadas
Embora o hall de comportamento
seja variável de acordo com cada ser não humano, algumas alternativas podem servir
como medidas de prevenção e combate aos sintomas de doenças emocionais. O
mercado dispõe inclusive de serviços nesta área, que podem auxiliar tutores que
não dispõem de tempo livre para atender às necessidades dos pets. Profissionais
para passeios com os animais e a socialização em creches são algumas das
alternativas. Esta última não muito recomendável para felinos, por serem menos
adaptáveis a ambientes desconhecidos. Outra opção são os brinquedos e objetos
que proporcionem atividades da espécie, como os arranhadores dos gatos. Também
o convívio com seus semelhantes, como a adoção de um novo animalzinho. Assim,
ambos terão companhia para brincar durante longas e solitárias horas em casa.
Nos casos mais graves o
tratamento com antidepressivos, semelhante ao uso em humanos, poderá ser uma
das terapias recomendadas no restabelecimento da saúde emocional. “O
falecimento do tutor ou a mudança do pet para outro ambiente podem causar
depressão. A chegada de um bebê, de um novo animal ou ficar muito tenho sozinho
em casa são motivos de alerta. Um exemplo típico ocorre quando um cão é deixado
de guarda num local, preso a uma corrente, isso certamente provocará um abalo
emocional e deixará o animal agressivo. Pode até ser o objetivo da pessoa que o
colocou ali, mas não deixa de ser cruel”, acrescenta o médico veterinário.
Sobre o comportamento hostil
desses cães usados para sentinela, Renato explica que, “cachorros têm tendência
a considerar invasora qualquer pessoa ou animal desconhecido que acesse o território que considera seu. O
estresse da limitação de espaço e do isolamento, as privações de exercer as
necessidades da sua espécie, em alguns
casos somado à genética da raça e à forma como o animal foi criado, podem resultar
em um comportamento violento. Esses casos exigem a ressocialização do animal
com adestramento, paciência e muito carinho”.
Em muitos casos a identificação
da causa é difícil e pode levar tempo, pois será necessário investigar o
ambiente e a rotina da casa, além de outros fatores, como por exemplo os
hábitos do tutor. Lembrando que o médico veterinário é o profissional adequado
para diagnosticar e tratar o pet, pois poderá ser necessárias a administração
de medicamentos e recomendações sobre o manejo e ambiente.
Para concluir, Renato reforça
que, “o enriquecimento ambiental é o conceito que deve ser lembrado, seja em
relação à arquitetura do local ou à alimentação. Isso com certeza proporcionará
momentos de prazer aos animais”.
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Renato Pulz é docente do curso de Medicina Veterinária Crédito: Universidade Luterana do Brasil |
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