O jornalismo me seduziu aos 15, num tempo em que tecnologia
e oportunidades não ultrapassavam as porteiras da fazenda.
Cresci. Mudei. Estudei o que meu dinheiro podia pagar.
Construí uma carreira.
Comprei meu carro. Conquistei minha casa. Nasci como mãe num
final de tarde em novembro.
E pela primeira e única fez na vida, fui feliz com ela: a
estabilidade.
O destino se fez cumprir, após uma reunião de trabalho. Larguei
tudo e fui atrás do meu sonho.
A caminhada até a tão almejada formatura durou nove anos,
alguns estágios, frilas remunerados e trabalhos só pela experiência.
Foi um tempo de aprendizado e esperança. Encontrei muitas
pessoas bacanas que me ajudaram e incentivaram a seguir em frente.
Encontrei muitas portas abertas e por algumas só não pode ir
além, pela falta do diploma. Então numa noite de fevereiro, vibrei na cadeira,
quando ouvi meu nome.
Naquele momento me tornei quem sempre quis ser: jornalista.
O lado de cá da porta, porém não tem sido nada prazeroso.
Já pensei em desistir. Refiz meu currículo na área
comercial, mas desisti da empreitada logo nos primeiros contatos.
Não nadei para morrer na praia, mas é tão difícil desistir
da pós pela falta de grana para honrar os pagamentos, ver tantos cursos de
aperfeiçoamento e não poder participar por estarem foram do orçamento.
Sem falar nos apertos do dia a dia. Em ter a carteira e os armários
vazios. Na lista de coisas básicas que não podem ser compradas e a ideia de um
pouco de luxo, há muito abandonada.
Os ‘nãos’ por sua
vez, coleciono aos milhares. As desculpas e os preconceitos mascarados, também enchem
gavetas e o peito, por isto frequentemente choro.
Sim! Eu sou mãe. Meu filho é lindo, tem dez anos e nunca foi
motivo ou desculpa, para que eu faltasse ou abandonasse um trabalho.
Não preciso que um entrevistador me pergunte como vou lidar
com emprego e maternidade, pois isto sempre foi minha especialidade. É
descabido também perguntar como vou organizar a logística como uma criança,
quando precisar trabalhar a noite e finais de semana. Sou mulher de compromisso.
Dentro e fora de empresa.
Eu estarei na hora e local marcados. De salto e maquiada.
Pronta para desempenhar minha função com bom ânimo e disposição. Não importando
o que me espera ‘depois da hora’.
Quando perguntam: ‘pretende ter mais filhos?’, não sei se
devo ser sincera ou me desculpar por ser mulher e ter um útero.
Ah, e se quiserem saber o motivo pelo qual me formei ‘tão
velha’, digam primeiro se há tempo e disposição para me ouvir, pois é grande a
história.
A impossibilidade de participar de uma cobertura no final de
semana é a pérola da noite e fará com que eu afunde a cabeça no travesseiro e
chore até virar mais uma madrugada, assim que apagar as luzes. A prioridade é
dar oportunidade aos estudantes. Preciso entender e tentar dormir com isto.
Quem mais está nesta topa dar um abraço e chorar junto?
Esquece. Falta de estabilidade emocional é altamente prejudicial a qualquer
currículo.
Vamos fingir que está tudo bem. Ser jornalista formado, num
mercado onde as Leis favorecem o comércio de registros profissionais da
categoria, é bom demais. #SQN.
Empreender também está ruim, pois vale a oferta do ‘mais
barato’. Qualidade, conhecimento e experiência não entram na conta, afinal quem
não tem nenhum trabalho comprovado, pode apresentar projetos feitos na
faculdade. Vale a regra do mais em conta mesmo.
Qualquer um pode escrever texto. Qualquer um pode
administrar as redes sociais da empresa. Fazer as fotos do evento.
E não esqueça que além de gostar de café, o bom jornalista,
precisa ser um ótimo relações públicas, um excelente publicitário e o cara do
designer gráfico, tudo pelo incrível salário de R$1.200,00, com vale transporte
e refeitório – trás de casa e esquenta aqui – e ter habilitação na categoria B.
Será que é pedir muito querer um emprego de verdade onde eu
possa colocar em prática todo o meu conhecimento e habilidades?
Deve ser.
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