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O tamanho de minha riqueza



Há alguns dias conversando com amigos lamentei que tenho apenas duas semanas para ficar rica e poder sair tranquila em férias.
Nesta sexta-feira, porém, na metade do prazo estipulado, tudo mudou. O saldo de minha conta bancária continua beirando o zero, mas me descobri enfim uma pessoa rica.
Tenho saúde e por este fato sou alguém abastadamente milionária.
Esta conclusão não veio ao acaso. Foi durante uma carona. Num reencontro. Na saída do super mercado. Ouvindo uma história.
Minha interlocutora falava sobre a filha. Uma mulher jovem. 36 anos. Exatamente minha idade. Câncer raro e maligno diagnosticado. Estado terminal irremediável.
Em frações de segundo olhei para dentro de mim. Revi todo meu passado. Visualizei meus planos futuros. Imaginei tudo isto transformado em nada diante de um fim prematuro e eminente. Não. Definitivamente no lugar desta moça eu não estaria preparada. Mas ela? Não. Ela também não está.
De acordo com os médicos tudo que passa em sua cabeça no momento é um estado de defesa, desenvolvido em doentes terminais, que encontram uma ‘bengala’ para continuar acreditando.
Enquanto aquela mãe – que poderia ser a minha, narrava como a família tem convivido com a sentença decretada em maio do último ano, minha mente vagava em milhões de pensamentos. Poderia ser eu. Câncer é roleta russa. De uma roda da qual não escolhemos participar. É decreto de morte ao inocente.
Eu poderia chorar. Seguir me lamentando pela falta de emprego. O diploma desvalorizado. O alto preço de tudo. Aquele vestido que tanto gostei, mas que estou sem grana para comprar. Mas Deus, seria tanto egoísmo. Tanta falta de gratidão. Vou me calar. Não tenho mais problemas.
Sinceramente tudo que quero neste instante se resume em: preciso dar um abraço nela!
Ela está aqui. Apenas algumas casas da minha. Dizendo que precisa voltar ao trabalho, retornar para a faculdade, dar uma volta no shopping, mesmo sem poder parar em pé. Mesmo sabendo de toda a verdade.
E a verdade dela, meus amigos, não dói só na alma, dói no corpo, cresce incontrolavelmente por seus órgãos. Enquanto ‘esperam’! Sim! Esta é a resposta da medicina para o pai e a mãe que também sofrem: esperar!
Você que reclama que espera demais pelo ônibus, o quinto dia útil, a balada do final de semana, a viagem dos sonhos, aquele emprego bom ou a visita de um amigo, se imagina em casa ‘esperando a morte’ no auge dos seus 36 anos?
Isto para mim soa muito cruel. Ela diz que é uma virose e já está passando. Fingindo acreditar, mesmo não acreditando.
Eu sou rica. Depois desta sexta-feira, 9 de dezembro de 2016, repetirei isto como uma mantra: TENHO TODA A FORTUNA DO MUNDO.
Meus problemas não são nada, pois amanhã quando o sol nascer à vida me dará a chance de tentar de novo.



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Olhos assim

Você não deve dar crédito aos meus devaneios, Nem dizer que são feios os rabiscos que eu chamo de poesia. Você tem que continuar agindo com calma, Sem se preocupar com todas as fantasias que habitam minha alma. Nunca falei para alguém tudo que é importante para mim, Nem do fascínio que devoto por olhos assim. Então, quando fitei pela primeira vez, este céu sem lua, Percebi que jamais dormiria sossegada querendo tê-los para mim. Teu olhar castanho, que mostra teu ar tristonho, Nunca me falou dos sonhos teus. Mas despertou o brilho adormecido dos meus. Só te peço que não me judie, que não negue teu amor para mim. Eu não saberia amar outros olhos. Outros olhos assim. Porto Alegre, 27 de novembro, de 2001. Conheça a página  Jornal de Ideias Comunicação Digital   e con fira de perto todo  o trabalho realizado pela profissional que atua na produção dos conteúdos deste blog. Não é permitido reproduzir texto, imagem ou qualquer outro tipo de produção intelectual de um blog, sem a devida autori