No início de minha trajetória profissional no jornalismo
tive o privilégio de acompanhar o trabalho do saudoso Dr. Carlos César de
Albuberque, que após deixar o Ministério da Saúde, fora eleito prefeito de
minha cidade natal, Barra do Ribeiro.
Naquele ano (2001), ainda muito longe de ingressar na
faculdade, por conta da grande paixão e interesse pela área, conquistei meu
primeiro emprego como auxiliar de redação, no único jornal impresso do
município, onde acompanhar o chefe do executivo em sua agenda externa era uma
de minhas tarefas.
Nestas andanças, além de aprender sobre política, me tornei
amiga do médico, um homem de sorriso largo e boa oratória. Espírita convicto
que sempre analisava uma situação por ambos os lados. Sei que ele não fez muito
pela Barra, além de novas praças, que acredito não existirem mais, mas para
iniciar e terminar a discussão, em mais de três décadas de vida, nunca vi
nenhuma mudança. Entre governo. Sai governo. A cidade continua no buraco. Carlos
César era meu amigo. Fim.
Uma frase dita por Albuquerque em um discurso tem se feito
muito presente na minha vida e me sinto na obrigação de falar sobre ela, por
isto, este texto:
“Não podemos apenas dar o peixe, é necessário ensinar a pescar.”
Vivemos num mundo conectado. Onde a inclusão digital se faz
necessária para a comunicação e aprendizado da população. Embora hoje se fale em
restrição do uso da internet, em meu ver, a humanidade chegou a um ponto, tanto
de relações, como negócios on-line, em que é impossível voltar atrás.
O que tem me incomodado é o número de internautas pedintes. O
avanço tecnológico foi tanto a ponto de informatizar os pedidos de ajuda? Peço desculpas
a quem pensa diferente. É um direito meu e teu. Porém no meu tempo de menina,
quem precisava de doações, fossem elas roupas ou alimentos, batiam a nossa
porta. Pediam carona em ônibus para contar suas histórias aos passageiros, a
fim de arrecadar alguns trocados. Hoje em dia os pedintes estão em grupos
virtuais, contato suas desventuras em busca de auxílio das mais diversas
formas. O ponto que quero chegar é de que, como uma pessoa que não R$10,00 para
presentear sua filha na Páscoa com uma caixa de bombons, tem condições de
manter um aparelho celular, que precisa ser android ou ter uma tecnologia bem
superior aos antigos, que apenas fazem e recebem ligações, com conexão a
internet?
As pessoas reclamam da falta de emprego, da falta de roupas
para o inverno, comida no armário, dinheiro para remédio, mas estão todas
conectadas. Alguns mais espertos pedem doações em uma comunidade e revendem em
outras. Qual é a mágica que faz faltar tudo menos conectividade? É uma questão
de prioridade?
Vivemos num país livre e a internet está ai e é para todos,
mas se eu não tenho onde morar, se meu filho não tem o que vestir e não tenho
condições de presenteá-lo com uma simples barra de chocolate numa data
comemorativa, telefone de última geração e créditos para acessar redes sociais,
estarão nas últimas posições da minha lista de preferências.
É nosso dever ajudar ao outro, afinal somos todos irmãos,
mas num tempo quem que estamos rodeados por aproveitadores, não só no nosso dia
a dia, mas também no Planalto Central, precisamos analisar cada situação, antes
de abrir nossas carteiras e armários.
Vamos sim, dar o peixe, principalmente quando nosso
semelhante tem fome, mas vamos também ensinar a arte da pesca. Quem não teme o
trabalho e busca não apenas doações e sim oportunidades estará aberto a
aprender.
Quem quer mudar de vida vai à luta com as armas que tem. Vivemos
tempos difíceis, onde na falta de oportunidades precisamos construí-las. O resto
é coitadismo. O mesmo que se alimenta e alimenta o governo corrupto que temos no
poder.
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